Eu, proprietário da minha juventude não me deixando levar pelos seus bracejos e perneios, culpo-me pelas tantas vezes que a deixei fazer passeios noturnos à vista de todos. Eu que nunca na vida, deleitei-me das águas de Juventa, nem implorei à Pandora qualquer aparência juvenil, vejo-me perseguido pelo mesmo terror dos proprietários das casas onde a razão e a normalidade fazem às honras da casa e não se contagiam com os processos malignos do pensamento.
Justo eu que desgostoso com minha sorte, travei luta contra o tempo, exigindo sempre o futuro, descontente com a velocidade dos anos, estando sempre à espera da liberdade, vejo-me neste instante a implorar ao tempo uma desaceleração, não por vaidade ou pelos receios da beleza que se esvai, antes fosse, mas senão unicamente pela minha prezada sanidade.
Digo-te já, não me foi prometido nada senão o tempo, e agora me pergunto, como ela pôde alastrar-se pela casa tão de súbito e tão rapidamente; não era esperado que ela me visitasse apenas quando eu tivesse a alcançar os anos onde o homem dorme e aguarda solenemente a voluptuosidade do nada, ou para os crentes, a terra da eternidade?
Creio eu que de tanto almejar os pensamentos daqueles que tiverem da vida os desejos saciados e dos que alcançaram alguma maturidade dos anos, acabei por intermédio de uma força misteriosa com os pés retidos no chão, alcançando somente os devaneios mais absurdos e destrutivos dos homens que edificaram meus sonhos pueris.
Agora, pergunto ao tempo, deixo que ela, a maligna, a que espalha palavras obscenas pela minha mente, a que anda pela casa nos domingos solitários, senão a própria; a sandice, devo deixá-la sair do porão e desfilar pela casa, exibindo ao mundo toda a loucura daquele que não deixou de pensar?
Mas o tempo não responde, o minuto que passou não se realiza, somente o minuto que vem é real, o tempo subsiste em mim.
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